Faixa de Gaza
 
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            Existem muitos tipos de políticos que me deixam irada. Mas, nenhum deles, faz meu sangue entrar em ebulição maior do que o ‘aproveitador’. Aquele que lucra a partir de um evento ou de uma calamidade pública, envolve o eleitor com suas promessas de melhoras e toma proveito deste momento difícil para se eleger.

            Ele não é bom o bastante para conseguir votos em ‘condições normais de temperatura e pressão’, então fica ‘na moita’, a espera de alguma catástrofe ou algum descontentamento geral. E, como um herói sem nenhuma pretensão, ele surge em prol dos fracos e oprimidos. Mas, é claro, que ele não se importa minimamente com os apelos ou sentimentos da população. Então, assim que vira o ‘da ocasião’, se esquece das promessas, das defesas, do povo que o colocou onde ele jamais deveria estar.

            E o povo? O vê como salvador da pátria. O único que ficou ao seu lado no momento difícil ou que apoiou a sua revolta – mesmo quando esta não fazia sentido-. Assim, ludibriados por promessas promíscuas, eles votam. Votam e fazem boca de urna. Votam e cantam jingles imbecis. Votam e se afundam. Votam e não percebem o que está por trás de tamanha bondade.

            Minha avó já dizia “quando a esmola é demais, o santo duvida”. O problema do brasileiro é que ele nunca desconfia dos metidos a heróis – talvez pela imensa necessidade que temos deles, ou pela incrível ausência dos mesmos na nossa história-. E se a esmola é grande, o brasileiro sorri e confia.

            E o bonitão? Se elege, ganha seus votinhos e seu lugar ao sol. Cumprimenta com tapinhas nas costas àqueles aos quais ele se opunha e vociferava, toma as mesmas medidas dos que ele criticava e trata o povo com a mesma falta de vergonha a qual outrora ele se opunha.

            Eu li, em algum texto, algum jornalista (precisão nunca foi meu forte) que dizia que o bom entrevistador era aquele que olhava para seu entrevistado e perguntava “Por que esse filho da puta está mentindo pra mim?”. Acredito que essa mesma pergunta pode ser usada para políticos, dos bons aos maus, dos cretinos aos aproveitadores. Duvide de todas as boas intenções (e das más nem se fale), questione o que leva determinada pessoa a tomar tal iniciativa (ainda mais se essa pessoa for político) e lembre-se: vereadores, deputados, prefeitos e Cia sempre têm o rabo preso, descubra o que ou quem os prende.

             Heróis não nascem da noite pro dia e nem levam vantagem com seus bons atos.  Se até Jesus foi questionado, porque crer em alguém que poderá lucrar através de boas atitudes? Desconfie. Desconfie. E, quando cansar de desconfiar, desconfie mais ainda.

            Os aproveitadores estão em todas as esquinas, somente a espera de uma pequena situação para crescerem. Mas, todos têm um passado. Qual será o deles?

**Texto em "homenagem" a um ilustre mogimiriano

 
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Eu não me entendo
só sei que as vezes não paro
frequentemente me irrito
e costumeiramente sou quem mais falo.
Um zumbido me arrasta pro ralo,
tudo que eu começo, eu paro.
Se é devagar, sai do meu lado,
porque tudo que é muito parado
me deixa inteiramente entendiado.

Viver comigo é complicado,
esqueço tudo que digo
e não penso em nada que falo.
A forma que ajo é sem tato
e não sei o que é ser 'focado'.
Mas, apesar de tudo parecer tão errado,
as vezes me dizem que sou engraçado.

Embora seja dificil me manter concentrado,
gosto de começar trezentas mil coisas no mesmo ato.
Sou tão irônico quanto sou estabanado.
Esqueço nomes, lugares, pessoas,
confundo datas, invento cores.
Meu mundo não é nada quadrado
e ser impulsivo é o meu fardo.

Uns dizem que sou louco,
outros desorientado.
Psicólogos fazem a festa
estudando meu jeito atrapalhado.
Algumas pessoas me julgam de mau educado,
mas a ansiedade não me permite
permanecer parado.

Se deitar: enlouqueço.
Se respirar: esqueço.
Se pisar no freio: desapareço.

...parece que vivo no avesso,
mas depois de tanto tropeço,
sei quem eu sou e o que eu desejo:
movimento!