Faixa de Gaza
 
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Sabe quando você cansa?
Cansa daquela roupa – que era a sua favorita-; cansa do sapato – que era o mais confortável-; cansa da imagem no espelho – que parecia razoável-; cansa das mesmas conversas – que eram animadas-;

Sabe quando você cansa?
Cansa de escrever sobre as mesmas coisas – que antes eram tão originais-; cansa de usar as mesmas palavras – que antes cabiam tão bem-; cansa das mesmas ideias – que você nem sabe porque as mantém-...

Sabe quando você cansa?
Cansa de ouvir as mesmas reclamações – que antes tinham algum conteúdo-; cansa de escutar as mesmas recomendações – que antes faziam algum sentido-; cansa de manter alguns contatos- que antes te traziam tanta excitação-;

Sabe quando você cansa?
Cansa de usar as tecnologias- que antes eram tão cheias de novidades-; cansa de ver sempre as mesmas pessoas – que antes eram tão esperadas-; cansa de andar pelos mesmos lugares – que antes lhe traziam boas recordações-;

Sabe quando você cansa?
Cansa de segurar as mesmas mãos – que antes lhe trazia conforto-; cansa de receber os mesmos abraços – que antes eram tão calorosos-; cansa de viver a mesma vida- que antes lhe cabia-;
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Sabe quando você cansa?
Não me caibo mais em mim de tamanha canseira. Acho que me expandi de tão forma que já não sirvo em mim e não me reconheço em nada que me cerca. Cansei da ideia de me ser. Queria ser outra. Outras. Inventadas como as páginas coloridas que escrevo. Que depois viram negras, e cinzas, e azuis e roxas.  Outra. Uma outra ideia, uma outra imagem, um outro caminho, uma outra vida.
Cansei de reinventar-me e voltar ao mesmo ponto de partida. Cansei de escrever mais do mesmo. Cansei do padrão, do limite entre a loucura e a normalidade. Quero ser louca e normal. Quero ser ‘descansada         ‘ de minha própria natureza. Quero ser! Tenho ânsia de ser. Ser-me. Ser tantas. Ser nada. Ser tudo.
Cansei, vou-me embora pra Pasárgada andar de braços dados com um poeta doido e triplo. Vou-me embora ,cansada de mim.